quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ab’Sáber critica revisão de código

Isaac Lira e Carla França - Repórteres

Aziz Ab’Sáber, do alto de seus 86 anos, muitos deles dedicados à ciência no Brasil, não tem dúvidas: para ele, a revisão proposta para o Código Florestal é uma estupidez. O professor de geografia da Universidade de São Paulo criticou o limite fixo para preservação das margens de rios e a tentativa da dita “bancada ruralista” diminuir o percentual da Reserva Legal na Amazônia. O professor publicará hoje um artigo com pesadas críticas ao texto aprovado pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B). “Uma revisão do Código Florestal precisa ser liderada por gente que conhece o assunto, o que, infelizmente, não é o caso”, declarou.

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A opinião de Ab’Sáber foi emitida durante uma conferência-homenagem na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O geógrafo brasileiro foi homenageado pela SBPC por suas contribuições à pesquisa no Brasil. “Um grande humanista”, assim foi definido Aziz Ab’Sáber, considerado referência nos estudos de geomorfologia e meio ambiente. Para o professor, o limite de sete metros e meio após a margem de rios é insuficiente. “Os revisores aplicam o espaço de sete metros da beira de todos os cursos d´água fluviais sem mesmo ter ido lá para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional”, afirma.

O ponto de vista de Aziz Ab’Sáber enfoca as diferenças de cada região natural do Brasil. O geógrafo tem autoridade para falar do assunto, tendo em vista ser um dos principais teóricos da classificação morfológica da geografia brasileira. Caatinga, pantanal, cerrado, araucárias, entre outros. Esses são os chamados “domínios morfoclimáticos” e todos, na opinião do professor, precisam ser considerados a partir de suas características específicas. Por isso, o “Código Florestal” deveria, nessa perspectiva, ser um “Código da biodiversidade”. “Ora, a caatinga não é floresta, o cerrado não é floresta e todas essas regiões precisam ser incluídas no código. É preciso ampliar a discussão”, declara.

 Outro ponto destacado pelo professor Aziz Ab’Sáber é a tentativa de diminuir a reserva legal na Amazônia. Cada propriedade rural naquela região precisa preservar 80% de desmatamento em seu território. Segundo o geógrafo, a intenção é diminuir para 20%. “É um retrato do que já aconteceu no Sudeste, com áreas totalmente destruídas. Não podemos permitir o mesmo na Amazônia”, diz.

A proposta do Código da Biodiversidade foi enviada a Brasília, mas rejeitada pelo Governo Federal por ser “complexa e inoportuna”, segundo palavras do próprio Ab’Sáber. Para reverter esse quadro, o cientista conclama os demais intelectuais da sociedade brasileira. “Bastaria que os acadêmicos conscientes da estupidez que está sendo feita se unissem para impedir essa dita reforma”, disse, com contundência. A atuação do cientista na sociedade não é novidade para o geógrafo. Para ele, a ciência não se aparta da vida cotidiana das pessoas. A ciência está em todo o lugar. Eis o “grande humanismo” de Aziz Ab’Sáber.

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