domingo, 20 de fevereiro de 2011

DNA de negros e pardos do Brasil é 60% a 80% europeu


No Brasil, faz cada vez menos sentido considerar que brancos têm origem europeia e negros são 'africanos'. Segundo um novo estudo, mesmo quem se diz 'preto' ou 'pardo' nos censos nacionais traz forte contribuição da Europa em seu DNA.

O trabalho, coordenado por Sérgio Danilo Pena, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), indica ainda que, apesar das diferenças regionais, a ancestralidade dos brasileiros acaba sendo relativamente uniforme. A grande mensagem do trabalho é que [geneticamente] o Brasil é bem mais homogêneo do que se esperava, disse Pena à Folha.

De Belém (PA) a Porto Alegre, a ascendência europeia nunca é inferior, em média, a 60%, nem ultrapassa os 80%. Há doses mais ou menos generosas de sangue africano, enquanto a menor contribuição é a indígena, só ultrapassando os 10% na região Norte do Brasil. Quase mil: Além de moradores das capitais paraense e gaúcha, foram estudadas também populações de Ilhéus (BA) e Fortaleza (compondo a amostra nordestina), Rio de Janeiro (correspondendo ao Sudeste) e Joinville (segunda amostra da região Sul).

Ao todo, foram 934 pessoas. A comparação completa entre brancos, pardos e pretos (categorias de autoidentificação consagradas nos censos do IBGE) só não foi possível no Ceará, onde não havia pretos na amostra, e em Santa Catarina, onde só havia pretos, frequentadores de um centro comunitário ligado ao movimento negro.

Para analisar o genoma, os geneticistas se valeram de um conjunto de 40 variantes de DNA, os chamados indels (sigla de 'inserção e deleção'). São exatamente o que o nome sugere: pequenos trechos de 'letras' químicas do genoma que às vezes sobram ou faltam no DNA. Cada região do planeta tem seu próprio conjunto de indels na população, alguns são típicos da África, outros da Europa. Dependendo da combinação deles no genoma de um indivíduo, é possível estimar a proporção de seus ancestrais que vieram de cada continente.

Do ponto de vista histórico, o trabalho deixa claro que a chamada política do branqueamento, defendida por estadistas e intelectuais nos séculos 19 e 20, com forte conteúdo racista, acabou dando certo, diz Pena. Segundo os pesquisadores, a combinação entre imigração europeia desde o século 16 e casamento de homens brancos com mulheres índias e negras gerou uma população na qual a aparência física tem pouco a ver com os ancestrais da pessoa.

Isso porque os genes da cor da pele e dos cabelos, por exemplo, são muito poucos, parte desprezível da herança genética, embora seu efeito seja muito visível. O trabalho está na revista 'PLoS One'.
 
(Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com/Ambientebrasil)

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